domingo, 15 de janeiro de 2012


Foto: Verena Seiffert
Somos todos "Índios" de uma imensa aldeia amazônica globalizada

Essa bela imagem trata-se de um por do sol no Rio Guamá (PA), rio que banha a cidade de Belém -capital do estado do Pará. A exuberante paisagem foi capturada pela objetiva sensível de Verena Seiffert, professora de português da rede de ensino fundamental da prefeitura de Belém. O olhar sensível da jovem professora Verena buscou a luz do sol no horizonte no crepúsculo do dia, a sensibilidade da professora também se comprova pelo curso de especialização que ela está fazendo em educação inclusiva. Trata-se de um olhar sensível sobre a linda paisagem marcada pelo rio e pelo tempo lento da natureza, vazia de homens, mas cheia de expressão e significado para o homens que ali vivem...

Para alguns a Amazônia é aquele paraíso historicamente profanado pelos dominantes que aqui chegaram nos tirando nossa pureza, nossa ingenuidade e apropriando-se de todas as nossas riquezas. E assim nos trataram como "índios" - seres inferiores dotados de uma cultura rudimentar, restando-nos apenas devastação, miséria e fome.  A nossa natureza exuberante, plena em recursos naturais, passou a ser vista como uma espécie de éden que precisava ser dessacralizado pelos donos do poder e da capacidade de decidir sobre o nosso futuro. Esse éden perdido foi sendo degradado e transformado numa espécie de "inferno verde", cheio de mazelas, doenças e outros infortúnios.  Assim a Amazônia foi ficando marcada por conflitos sociais nos quais os grandes vencedores foram e continuam sendo aqueles que dotados de superioridade técnica e capacidade de investimento trazem para o atendimento de seus interesses o rumos da região e o destino de seu povo. Nosso objetivo aqui é mostrar que a Amazônia apesar de também ser tudo isso pode e deve ser geradora de uma nova realidade mais justa e equilibrada. 


Pra começo de conversa um bom ponto de partida para nossa reflexão pode ser a poesia de Renato Russo, na qual ao refletir sobre a exploração do homem pelo homem, ele nos permite pensar sobre o que afinal nos transformou em "índios" e o que de fato isso significou e ainda pode significar nos dias de hoje, cabendo, para nós o seguinte questionamento: a quem o poeta clama pelo entendimento disso tudo e de si mesmo, ou seja, quem pode nos libertar desse longo processo de opressão? Quem deve nos entender do início ao fim? Deus? ou seria o Deus interior de cada indivíduo que se fundamenta no conhecimento de si mesmo e daquilo que o cerca?

ÍNDIOS
(Renato Russo)

Quem me dera, ao menos uma vez,
ter de volta todo o ouro que entreguei 
a quem conseguiu me convencer
que era prova de amizade 
se alguém levasse embora 
até o que eu não tinha. 

Quem me dera, ao menos uma vez, 
esquecer que acreditei 
que era por brincadeira 
que se cortava sempre 
um pano-de-chão 
de linho nobre e pura seda. 

Quem me dera, ao menos uma vez, 
explicar o que ninguém consegue entender:
que o que aconteceu ainda está por vir 
e o futuro não é mais como era antigamente. 

Quem me dera, ao menos uma vez, 
provar que quem tem mais do que precisa ter 
quase sempre se convence 
que não tem o bastante 
e fala demais por não ter nada a dizer. 

Quem me dera, ao menos uma vez, 
que o mais simples fosse visto como o mais importante,
mas, nos deram espelhos e vimos um mundo doente...

Quem me dera, ao menos uma vez, 
entender como um só Deus ao mesmo tempo é três; 
e esse mesmo Deus foi morto por vocês: 
É só maldade então, deixar um Deus tão triste! 
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho; entenda: 
Assim pude trazer você de volta pra mim
quando descobri que é sempre só você...
que me entende do inicio ao fim 
e é só você que tem a cura pro meu vício
de insistir nessa saudade que eu sinto...
de tudo que eu ainda não vi. 

Quem me dera, ao menos uma vez, 
acreditar por um instante em tudo que existe; 
e acreditar que o mundo é perfeito 
e que todas as pessoas são felizes! 
Quem me dera, ao menos uma vez, 
fazer com que o mundo saiba
que seu nome está em tudo 
e mesmo assim
ninguém lhe diz ao menos obrigado. 

Quem me dera, ao menos uma vez, 
como a mais bela tribo, 
dos mais belos índios, 
não ser atacado por ser inocente. 
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Entenda:
Assim pude trazer você de volta pra mim, 
quando descobri que é sempre só você...
que me entende do início ao fim 
e é só você que tem a cura pro meu vício
de insistir nessa saudade que eu sinto
de tudo que eu ainda não vi. 

Nos deram espelhos e vimos um mundo doente...
Tentei chorar e não consegui!